150x maior que o PIX: o que a nova plataforma da Receita significa para o pequeno empresário (e como se preparar)
A Receita Federal está construindo uma plataforma para operacionalizar os novos IVAs (CBS e IBS) da reforma tributária. Ela será “150 vezes maior que o PIX” em volume de dados e terá split payment: na venda B2B, a parte do imposto vai direto para União, estados e municípios. Resultado: menos erros, menos sonegação, cálculo automático de créditos e aviso preventivo antes de autuação. Na prática, muda seu fluxo de caixa, seus processos de faturamento e a integração do seu ERP.
O que é essa plataforma — sem economês
Pense numa “maquininha do imposto” acoplada ao seu faturamento:
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Tudo digital e em tempo real. Ao emitir a nota e receber por meios eletrônicos, o sistema calcula o imposto e remete a parte pública automaticamente (split payment).
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Créditos do IVA automáticos. O sistema registra e facilita o abatimento dos tributos pagos nas etapas anteriores.
O que muda para o pequeno negócio (na prática)
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Fluxo de caixa: a parcela do imposto não passa mais pelo seu caixa nas operações B2B com pagamento eletrônico.
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Menos chance de erro: a calculadora oficial reduz erros de classificação e alíquota.
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Crédito mais rápido: o crédito do IVA tende a ser reconhecido e conciliado com mais agilidade.
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Tolerância a “noteira”: cai a zero. Fornecedor de fachada vai travar seu crédito e sua conformidade.
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Faturamento mais técnico: NCM/serviço, CFOP e regras de exceção precisam estar impecáveis.
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No varejo (B2C): haverá split por estimativa com ajuste no fim do mês — menos impacto imediato no caixa, mas requer conciliação (ponto de atenção).
Split payment na reforma tributária: o essencial
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CBS (federal) e IBS (estadual/municipal) substituirão PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS, com não-cumulatividade plena e cobrança no destino do consumo.
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B2B primeiro: o split payment se aplica principalmente entre empresas.
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B2C por estimativa: no varejo, o imposto será estimado e ajustado mensalmente.
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Foco em conformidade: a plataforma valida informações e reduz autuações por erro material.
Linha do tempo para colocar no calendário
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2025: pilotos em andamento com centenas de empresas.
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2026: sistema operacional para testes com alíquota simbólica (1%) que gera crédito e não eleva carga efetiva.
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2027: início oficial do split payment para a CBS e extinção de PIS/Cofins.
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2029 a 2032: transição do ICMS/ISS para o IBS com ajustes graduais de alíquotas.
Dica de gestão: trate 2026 como ano de dress rehearsal. Quem testar processos e integrações nesse período entra em 2027 muito à frente.
Impactos no caixa e no dia a dia (com exemplo didático)
Imagine uma venda B2B de R$ 10.000 com uma alíquota hipotética apenas para ilustrar (o percentual exato será definido por lei infraconstitucional):
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Você emite a nota e recebe por meio eletrônico.
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O sistema calcula o imposto e remete automaticamente a parcela pública (split).
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Você recebe apenas a parte líquida; o imposto não transita pelo seu caixa.
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Os créditos de compras entram para abatimento nas apurações seguintes.
Efeito: menos risco de inadimplência tributária, mas maior atenção ao capital de giro — principalmente se hoje você “conta” com o imposto no caixa até a data de pagamento.
Vantagens e pontos de atenção
Vantagens
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Menos erro e retrabalho em notas.
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Crédito do IVA mais claro e auditável.
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Aviso antes da autuação (ambiente mais educativo). Será?
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Redução de fraudes que distorcem a concorrência.
Atenções
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Classificação fiscal (NCM/serviços) precisa estar afiada.
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Integração ERP ? emissão de NF ? meios de pagamento não pode falhar.
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Fornecedores “noteiras” cortam seu crédito e criam risco.
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Rotina de conciliação deve ser diária (fiscal, bancária e de gateway). Exige maior gestão e controles, e um enorme desafio para as pequenas.
9 passos práticos para sua empresa se preparar já
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Mapeie seu fluxo de venda (B2B x B2C) e meios de pagamento. Onde haverá split automático?
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Faça um pente-fino fiscal: NCM, CFOP, código de serviço e regras especiais. Crie uma matriz tributária simples por produto/serviço.
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Audite seu cadastro de clientes e fornecedores. Evite parceiros com histórico suspeito; mantenha documentos e inscrições atualizados.
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Teste integrações entre ERP, emissor de NF e gateways/bancos. Priorize APIs estáveis e logs auditáveis.
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Implemente conciliação diária: pedidos x NF-e/NFS-e x liquidações x impostos remetidos.
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Ajuste políticas de preço e prazo considerando que o imposto não ficará no caixa. Revise capital de giro e limite de crédito.
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Treine o time de faturamento para usar a calculadora oficial e corrigir avisos do sistema.
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Crie um plano de contingência: o que fazer se o gateway ou o emissor falhar? Defina procedimentos e responsáveis.
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Acompanhe o cronograma (2026 testes, 2027 CBS, 2029-2032 IBS) e documente aprendizados do piloto.
Perguntas que recebo dos clientes (FAQ rápido)
Vai aumentar imposto?
A premissa da reforma é não elevar a carga total sobre consumo. Alíquotas serão calibradas para manter o peso atual, com exceções setoriais e benefícios previstos em lei.
Vai aumentar a fiscalização?
A tendência é melhorar a qualidade: menos autuações por erro básico, mais assertividade. Quem emite nota correta deve sentir menos fricção.
E quem vende no varejo (B2C)?
Haverá estimativa com ajuste mensal. Ainda assim, conciliação vira palavra de ordem.
Posso “atrasar” imposto recebendo via transferência?
Com pagamento eletrônico atrelado à nota, o split remete o imposto na hora nas operações B2B. Ajuste seu capital de giro.
E o crédito do IVA?
A plataforma registra e facilita o abatimento de créditos de etapas anteriores — desde que cadastros e classificações estejam corretos.
Conclusão
O split payment é mais do que tecnologia; é mudança de cultura: processo correto na origem, dados confiáveis e caixa sob controle. Quem começar agora — ajustando cadastro, classificação, integrações e conciliações — entra na nova fase com vantagem competitiva.
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